Alimentação, sono e saúde mental: entenda a relação.

A importância do sono para uma saúde, bem-estar e bom funcionamento do organismo já é demonstrado por estudos atualmente. O sono insuficiente tem sido associado a efeitos prejudiciais à saúde, bem como perda de produtividade e aumento de acidentes e lesões.1

Como o sono é um modulador essencial do funcionamento metabólico, incluindo o metabolismo energético, a regulação da glicose e o apetite, a investigação sobre os efeitos da duração do sono e da ingestão alimentar disparou nos últimos anos, especialmente porque o sono poderia representar um factor de risco modificável para doenças crônicas não transmissíveis, como a obesidade.1

O sono é considerado um grande regulador da homeostase humana, em razão da sua atuação no revigoramento dos sistemas do corpo. À vista disso, a privação do sono está associada ao desenvolvimento sistêmico de diversas doenças em todas as fases da vida. Além disso, a restrição de sono foi associada a mudanças nos reguladores hormonais do balanço energético, como aumento de grelina e diminuição da secreção de leptina, hormônios que atuam estimulando e inibindo a sensação de fome, respectivamente.2

Sono e alimentação: qual a relação?

A partir disso, uma revisão sobre como a dieta afeta a qualidade do sono indicou que alguns grupos alimentares podem estar associados negativamente ou positivamente à qualidade do sono. Foi encontrada uma tendência significativa de pior qualidade do sono com o aumento da ingestão de carboidratos simples, além de bebidas energéticas e bebidas açucaradas.3

Além disso, a relação entre a ingestão de alguns macronutrientes e sua relação com sono também foi observada. A baixa ingestão de proteínas, por exemplo, foi associada à má qualidade do sono e marginalmente associada à dificuldade de iniciar o sono, enquanto a alta ingestão de proteínas foi associada à dificuldade de manter o sono.3

Em outro aspecto, outro estudo de revisão visou analisar a relação de hábitos alimentares ao sono e estado nutricional. O que se observa é que a falta de sono pode influenciar ambos os lados do balanço energético, resultando em aumento da ingestão energética e menor gasto de energia. Como consequência da fadiga causada pela perda de sono, ocorre menor gasto energético durante o dia, o que leva a um comportamento sedentário. Assim, maior ingestão energética e de alimentos palatáveis, como açúcar e alimentos ricos em gordura, são uma resposta ao débito de sono.4

Como a alimentação pode promover sono de qualidade

Além dos aspectos citados, a alimentação também pode influenciar o sono por meio de ativos específicos presentes em alguns alimentos. Um exemplo disso são alimentos que influenciam os níveis de serotonina no organismo. A serotonina é uma substância neurotransmissora no sistema nervoso central e sua produção depende do fornecimento do aminoácido essencial, o L-triptofano, que não pode ser sintetizado pelo ser humano e, portanto, deve ser obtido a partir da dieta. Em alguns alimentos naturais é possível encontrar o triptofano, como por exemplo: bananas, semente de abóbora, soja, grão-de-bico, tâmaras secas, amendoins, leite, carne, peixe, peru e alimentos ricos em proteínas.5,6

A partir disso, uma revisão de literatura mostrou que é evidente a relação favorável que alimentos ricos em triptofano na liberação da serotonina trazem benefícios, ressaltando assim, a necessidade da inclusão de alimentos ricos em triptofano para prevenção e/ou recuperação de diversas doenças físicas e mentais.7

Por isso, manter bons hábitos alimentares e sono regular são essenciais para promover um equilíbrio holístico em nosso bem-estar. Nutrir nosso corpo com alimentos saudáveis e garantir uma quantidade adequada de sono de qualidade não apenas fortalece nosso sistema imunológico, mas também melhora nossa capacidade cognitiva, regula nossas emoções e nos ajuda a enfrentar os desafios diários com maior resiliência. Portanto, é fundamental dedicar tempo e atenção a esses aspectos cruciais de nossa rotina, a fim de desfrutar de uma vida mais plena e saudável.

Referências

1- Pote, G. (2018). Sono e hábitos alimentares no ambiente urbano: O papel da crononutrição. Anais da Sociedade de Nutrição, 77 (3), 189-198. doi:10.1017/S0029665117003974

2- Lessa R. T., et al. (2020). A privação do sono e suas implicações na saúde humana: uma revisão sistemática da literatura. Revista Eletrônica Acervo Saúde, (56), e3846.

3- St-Onge MP, Mikic A, Pietrolungo CE. Effects of Diet on Sleep Quality. Adv Nutr. 2016

4- Hermes FN, Nunes EEM, Melo CM de. Sleep, nutritional status and eating behavior in children: a review study. Rev paul pediatr [Internet]. 2022

5- Jenkins, T. A., Nguyen, J. C., Polglaze, K. E., & Bertrand, P. P. (2016). Influence of tryptophan and serotonin on mood and cognition with a possible role of the gut-brain axis. Nutrients, 8(1), 56

6- Abreu, F. (2021). Detalhamento sobre o triptofano e sua importância no combate aos agentes que levam à depressão: Avaliação sobre o produto Triptolife: Details about tryptophan and its importance in combating agents that lead to depression: Evaluation of the triptolife product. CPAH Scientific Journal of Health, 1(3), 130-141.

7- SOUSA JÚNIOR, D. T.; VERDE, T. F. C. L.; LANDIM, L. A. S. R. Foods rich in tryptophan and its effect on serotonin release and possible benefits in anxiety disorder. Research, Society and Development, [S. l.], v. 10, n. 14, p. e471101422190, 2021.

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