Muito se fala sobre os benefícios da alimentação para o esporte, para a imunidade, para o desenvolvimento físico e cognitivo, para a nossa estética, mas você já se perguntou como tudo que ingerimos impactam o nosso bem estar e a nossa saúde mental? Que cada nutriente tem um impacto direto em como nos sentimos diante de tudo ao nosso redor?
Convidamos o nosso parceiro João Motarelli, nutricionista clínico especializado em mindful eating e comportamento alimentar, e fundador do Instituto Consciência Alimentar para participar da nossa série “Essa é para você!” no YouTube e falar sobre a importância desse assunto nos dias de hoje.
Vem conferir um pouco do que rolou nesse bate papo!
“Para entender um pouco essa relação é fundamental a gente ter na nossa cabeça que essa relação é sempre unidirecional. A grande maioria das evidências trazem que uma alimentação inadequada pode levar a alterações no humor, isso porque para formar as substâncias e hormônios que regulam o nosso humor a gente precisa de nutrientes específicos presente nos alimentos, e nesse caso eu nem estou falando sobre suplementos mirabolantes, estou falando do básico que é comer frutas, verduras e legumes, que ainda sim é uma grande dificuldade para as pessoas hoje em dia.”
João explicou que recebe muitos pacientes no seu consultório com dificuldade de se relacionar com a comida, e de estar aberto a provar diferentes tipos de alimentos, muito porque não teve uma introdução alimentar tão ampla na infância, que é quando começamos a estabelecer uma relação com tudo que comemos, com o nosso corpo e na forma como enxergamos ele também.
Quais os nutrientes fundamentais que ajudam na manutenção da saúde mental?
“ Antes de falar de nutrientes específicos, é sempre bom a gente começar pelo básico que são os macronutrientes principais: proteínas, carboidratos e gorduras. Priorizar uma alimentação que traga esses nutrientes nas quantidades necessárias e individuais de cada um já é um bom começo, mesmo a gente sabendo que às vezes as pessoas preferem ir para um lado mais rápido e prático que é tomar um monte de suplemento, mas não adianta se você não tiver a base. Isso não exclui que os suplementos acabam sendo uma ferramenta muito bem vinda quando você já tem essa base muito bem construída. O que a maioria dos estudos buscam entender é qual padrão alimentar favorece mais efeitos positivos no nosso sistema cognitivo que envolve nossos pensamentos, humor e sensações, isso porque ao longo da vida a gente tem um declínio cognitivo natural, mas podemos ter ferramentas que ajudam nisso.”
Ele cita que alimentos como oleaginosas, azeite, ricos naquilo que chamamos de “gorduras boas” como o Ômega 3, são muito evidenciados em estudos, que comparam a menor incidência de transtornos mentais como a depressão, em pessoas com dietas ricas nesse tipo de nutrientes.
O quanto a euforia de querer fazer diversas coisas ao mesmo tempo, inclusive enquanto estamos comendo, impacta na nossa saúde mental e na nossa forma de se relacionar com a comida ?
“ Gosto muito de responder essa pergunta, porque é muito interessante ver como as coisas mudam de tempos em tempos, ainda mais nos dias de hoje que a todo momento a gente está conectado com a internet e acaba se esquecendo de estar conectado com nós mesmos. E quando a gente relaciona isso com a alimentação e saúde mental, são dois fatores que ficam muito prejudicados quando não temos atenção plena durante as nossas refeições, o que é muito visto nos dias de hoje, pessoas resolvendo diversas coisas no celular no momento da comida, e tem alguns autores que falam que a forma que a gente se relaciona com a comida é a forma que a gente leva a vida, e vice versa. ”
Além disso, João explicou que a maioria das pessoas que tem uma relação não tão boa com a comida, ou algum tipo de compulsão alimentar geralmente são pessoas que não têm a atenção plena necessária durante as refeições, porque é um fator crucial para ajudar no controle da ingestão de comida. Ele também citou um estudo que realizou uma ressonância magnética com alguns participantes, e foi capaz de mostrar o funcionamento do cérebro em tempo real diante do aumento da ingesta de comida, que se dá prioritariamente porquê as pessoas não tem atenção plena enquanto comem, e por isso, a área do cérebro que controla isso não funciona direito quando estamos distraídos, fazendo com que algumas informações não sejam processadas e nos leva a perda de controle ao comer.