Riscos de perda de massa magra associada ao uso de análogos de GLP-1

A semaglutida, agonista do receptor de GLP-1 (glucagon-like peptide-1), disponível nas apresentações Ozempic®, Rybelsus® e Wegovy®, e a tirzepatida (Mounjaro®), um agonista duplo de GLP-1 e GIP (glucose-dependent insulinotropic polypeptide), vêm ganhando relevância no tratamento do sobrepeso e da obesidade, com resultados expressivos em redução ponderal. No entanto, a perda de peso obtida com tais fármacos não se restringe ao tecido adiposo.
Evidências indicam que parte significativa da massa magra — incluindo musculatura esquelética — também pode ser comprometida, fato que levanta preocupações quanto à preservação da funcionalidade e do metabolismo a longo prazo.

Perda de peso: além do tecido adiposo

Embora a magnitude da redução ponderal com GLP-1 seja clinicamente relevante, é importante salientar que:

  • A perda de peso não é exclusivamente composta por gordura;
  • Massa magra, incluindo músculo esquelético, água corporal e até massa óssea, pode ser reduzida durante o processo;
  • A preservação muscular é essencial para manutenção de força física, taxa metabólica basal e prevenção de sarcopenia.

Mecanismos associados à perda de massa magra

Diversos fatores contribuem para a redução de massa muscular observada em pacientes sob uso de GLP-1:

  • Restrição energética acentuada: o menor aporte calórico reduz o estímulo anabólico necessário à manutenção da musculatura;
  • Ingestão proteica insuficiente: a diminuição do apetite induzida pela medicação frequentemente resulta em aporte proteico abaixo das recomendações;
  • Baixa estimulação mecânica: ausência de treino resistido regular reduz o estímulo hipertrófico necessário para preservar fibras musculares.

Implicações clínicas da perda de massa magra

A perda de musculatura durante o tratamento pode trazer repercussões como:

  • Redução da força física e da capacidade funcional;
  • Diminuição do gasto energético basal, com maior risco de reganho de peso;
  • Predisposição a sarcopenia e fragilidade em médio e longo prazo.

Estratégias para preservação de massa muscular

A literatura aponta algumas condutas eficazes para mitigar a perda de massa magra durante o uso de agonistas de GLP-1:

  • Ingestão proteica fracionada: distribuição de 20–30 g de proteína por refeição, visando um aporte diário de aproximadamente 1,2–1,5 g/kg/dia;
  • Planejamento de refeições ao longo do dia: garantindo disponibilidade constante de energia e nutrientes;
  • Treinamento resistido regular: inclusão de exercícios de força, pelo menos 2–3 vezes por semana, como estímulo essencial para manutenção e hipertrofia muscular;
  • Monitoramento da composição corporal: utilização de métodos como bioimpedância e DEXA, evitando a análise exclusiva do peso corporal;
  • Acompanhamento multiprofissional: ajustes individualizados de dieta, suplementação e prescrição de atividade física por nutricionistas e médicos.

Considerações finais

O tratamento da obesidade com agonistas de GLP-1 representa um avanço significativo no manejo clínico, mas deve ser acompanhado de estratégias que visem a preservação da massa magra. A redução da musculatura compromete a funcionalidade, aumenta o risco de sarcopenia e pode dificultar a manutenção do peso a longo prazo.

Assim, o acompanhamento nutricional e médico especializado é imprescindível para otimizar os resultados e garantir que o emagrecimento seja não apenas eficaz, mas também metabolicamente saudável.

Em qualquer estratégia de perda de peso, manter a massa magra é tão importante quanto perder gordura.

Este material foi desenvolvido a partir da gravação em vídeo com a Endocrinologista Patrícia Mathias e a Nutricionista Esportiva Dani Jodar, e adaptado para o formato de blog. O vídeo completo está disponível no Instagram @soudobroexperts.

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